Falência de empresas vão aumentar 20% a 30% em 2023

Especialistas antecipam disparo das insolvências e encerramentos de empresas em Portugal, depois da “anestesia” das ajudas Covid. Veja os principais fatores de risco e os setores mais vulneráveis.

Depois de quatro anos em que o número de insolvências e de encerramentos baixou em Portugal, ainda que essa evolução tenha sido condicionada nos últimos três exercícios pelos apoios que o Estado pôs à disposição das empresas – as ajudas diretas à liquidez, os regimes especiais de lay-off ou as moratórias de crédito –, o número de negócios que vão deixar de conseguir cumprir com as suas obrigações deve disparar entre 20% a 30% em 2023, de acordo com os especialistas ouvidos pelo ECO.

A estimativa da Allianz Trade aponta para uma subida de 20% das insolvências em Portugal no ano que está a começar, devido ao agravamento das pressões inflacionistas, à crise energética e às perturbações nas cadeias de abastecimento. A recessão nos EUA e na Zona Euro, somada à subida dos custos das matérias-primas, ao aumento das taxas de juro e ao crescimento da inflação são “elementos que geram alguma incerteza para 2023”, justifica Vassili Christidis, CEO da Cosec – Companhia de Seguro de Créditos, que identifica quatro riscos para o crescimento das insolvências no país.

  1. Aumento dos custos de financiamento, consequência do aumento das taxas de juro, bem como uma maior dificuldade de acesso a financiamento bancário, isto numa altura em que as necessidades de fundo de maneio aumentam;
  2. Potencial redução da procura por bens e serviços devido a um desacelerar das economias, em particular dos principais parceiros comerciais, devido a uma política monetária restritiva;
  3. Elevada instabilidade dos preços e impactos negativos na rentabilidade, pois o aumento de custos das matérias-primas e a inflação elevada tiveram como efeito uma rentabilidade negativa para algumas empresas em 2022, que se deve manter em 2023;
  4. Aumento dos riscos de incobráveis devido ao aumento estimado de insolvências a nível mundial em 2023, que pode ser um fator de agravamento das insolvências em Portugal.

Os estudos mais recentes da Allianz Trade, acionista da Cosec, sugerem que os preços da energia vão continuar elevados em 2023, pelo que os setores com maior dependência energética “podem encontrar-se numa situação mais vulnerável no próximo ano”, tal como devem “enfrentar dificuldades” as empresas descapitalizadas e que tenham um elevado endividamento. No que toca aos setores, o sucessor de Maria Celeste Hagatong, que saiu para liderar o Banco Português de Fomento, aponta que os serviços, os pequenos retalhistas, a construção e os transportes são os que, potencialmente, podem encontrar-se em situação mais vulnerável.

Também a Crédito y Caución perspetiva um ajustamento dos níveis de insolvência em termos globais, com Portugal a não ser exceção. “Este ajustamento resulta do fim das moratórias e dos apoios públicos às empresas, num contexto de baixa nas previsões de crescimento do comércio mundial e de desaceleração do crescimento. Para Portugal, as estimativas apontam para um crescimento de dois dígitos nas insolvências, que poderá superar os 30%”, resume Paulo Morais, responsável do grupo para os mercados de Portugal e Brasil.

Na pandemia, as insolvências baixaram devido às moratórias, que impediram o início de processos de insolvência, e aos apoios estatais que melhoraram a liquidez. “O reverso da medalha é que também mantiveram no ativo empresas, que em circunstâncias de mercado normais, não teriam tido sucesso e teriam declarado insolvência. Com a progressiva extinção dos programas de ajuda estatal e num cenário económico e geopolítico com muitos fatores adversos, a tendência é de aumento dos níveis de insolvências para valores superiores aos registados durante a pandemia”, contrapõe o gestor, prevendo que não haverá uma normalização dos indicadores de insolvência “até meados de 2024”.

Paulo Morais assinala que, nos próximos meses, as empresas mais vulneráveis são as mais expostas aos incumprimentos e à falta de liquidez da sua carteira de clientes, aquelas que atuem em setores muito expostos às flutuações inflacionistas dos fatores de produção (especialmente dos custos energéticos), as que não tenham ainda conseguido estabilizar as suas cadeias de fornecimento e, “muito especialmente”, aquelas companhias que se tenham sobreendividado durante a pandemia.

Um estudo de risco de crédito, realizado no outono de 2022, pela Crédito y Caución e pela Iberinform, precisamente junto do tecido empresarial português, mostrou que a esmagadora maioria (90%) nota uma deterioração dos níveis de solvência e liquidez dos seus clientes, com mais de 20% a reportar ter sofrido “incumprimentos significativos” em 2022. A deterioração da liquidez afeta tanto a capacidade das empresas para se financiarem e prosseguirem a atividade, como para honrarem os seus compromissos, conduzindo a situações de potencial insolvência.

O mesmo inquérito indicou, por outro lado, que 74% das empresas nacionais sofreram impactos negativos da morosidade na sua conta de resultados e 10% confessava mesmo sentir a sua sobrevivência ameaçada. Todos estes indicadores foram agravados face à pesquisa feita em 2021. E num contexto de emagrecimento das margens comerciais, como consequência dos aumentos dos custos de produção e do disparo na subida das taxas de juro, o responsável da Crédito y Caución para Portugal e Brasil indica ser “especialmente importante para a sobrevivência das empresas gerir adequadamente os seus riscos de incumprimento”.

“O número de insolvências de empresas deverá aumentar significativamente em 2023. (…) A guerra teve e tem um impacto enorme na economia mundial, europeia e nacional, trazendo consigo a crise energética, a subida da inflação, e escassez e consequente aumento dos custos de produção. E estes são os principais motivos para o aumento do número de insolvências que se prevê em 2023. De todo o modo, de forma menos relevante, influenciará também este aumento o número de PER [Processos Especiais de Revitalização] que foram apresentados nos últimos dois anos e que se convolarão em insolvência”, concorda Susana Santos Valente.

A sócia da PRA – Raposo, Sá Miranda & Associados, responsável pela área de recuperação de crédito e insolvência nesta sociedade fundada em 2001 e sediada no Porto, antecipa ainda ao ECO que os setores mais vulneráveis “serão seguramente aqueles cuja atividade tem forte dependência do setor energético, que fará diminuir lucros e obrigará o recurso à banca com taxas de juro estranguladoras”, mas também “as empresas com foco na importação serão fortemente afetadas”.

Em 2022, as insolvências diminuíram 19% em relação ao ano anterior, para um total de 3.869, o que equivaleu a menos 901 empresas insolventes. É o registo mais baixo dos últimos três anos, de acordo com os dados da Iberinform, que calcula uma média mensal de 352 casos deste género. Só em dois distritos (Braga e Horta) houve aumentos nas insolvências. Em valores absolutos lideram as regiões de Lisboa (1.035 empresas, -6,8%) e do Porto (875, -27%).

Em termos setoriais, apenas na eletricidade, gás e água (+5,9%) e nas telecomunicações (variação nula) é que não baixaram as insolvências, no comparativo com o ano anterior, que ainda foi marcado pela pandemia de Covid-19. O destaque vai para a diminuição dos casos na hotelaria e restauração (-22%), indústria transformadora (-22%) construção e obras públicas (-19%) e comércio de veículos (-15%).

Restaurantes, imobiliárias, lojas e transportes em maior risco

Dois indicadores criados pela Informa D&B dão alguma informação sobre o que se pode esperar das dificuldades que as empresas vão enfrentar no futuro próximo. E mostram onde estão, com maior probabilidade, aquelas com maior capacidade para continuar a crescer. O Indicador de Resiliência Financeira indica que mais de 40% das empresas tem um nível elevado ou médio-alto e 26% reduzido ou mínimo. Já o Risco Failure, que reflete a probabilidade de nos próximos 12 meses uma entidade cessar a sua atividade com dívidas por liquidar, aponta para uma “grande maioria” um risco mínimo ou reduzido, identificando, porém, 22% de empresas com risco moderado ou elevado.

Ora, o cruzamento destes dois indicadores mostra que existem 11% de empresas com nível de resiliência mínimo ou reduzido e também com risco failure moderado – e 2% com risco failure elevado. “Tal significa que existem 13% de empresas que estão numa situação em que é mais provável não conseguirem resistir à presente crise”, interpreta a consultora, acrescentando que os setores do alojamento e restauração, as atividades imobiliárias, o retalho e os transportes concentram a maior parte desta percentagem de empresas que mais dificilmente conseguir aguentar o embate da crise que se avizinha ao longo deste ano.

 

Artigo via www.eco.sapo.pt

 

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